Em plena madrugada, na recôndita solidão do meu quarto, a insônia me abate. Pensamentos, sensações, desejos...
Minha atenção e energias se voltam a interesses outros...
O relógio em cima da estante "bipa" anunciando mais uma hora. Cada segundo escoa mas, o que isso importa?!
Minha atenção e energias se voltam a interesses outros...
Um delicioso e magnífico suplício toma conta da minha razão. As imagens navegam em minha consciência como uma nau a deriva em um mar revolto... Tento me controlar! Ligo a TV... Vasculho os canais... Finalmente encontro um programa. Um antigo filme de faroeste. Droga! Mais índios mortos! O bem e o mal, o branco e o índio! Hipócritas! Ou será cristãos???
Fico irritado! Desligo o aparelho. O relógio bipa novamente... Céus, daqui a quatro horas terei que estar no ônibus para a Central com um bando de zumbis exalando fétidos odores! São brasileiros, são trabalhadores, são gado! Enfileiram-se rumo ao ônibus para o pão e para a riqueza do patrão...
Volto à realidade!
Tenho que dormir! Permito-me quedar o corpo no leito e fecho os olhos...
Viro e reviro... Ah, estou suando, meus músculos tremem...
De súbito me levanto!
- Vou lá fora tomar um pouco de ar - pondero.
Abro a porta do meu quarto que dá para uma cobertura recentemente construída e depois transformada em uma varandinha. À esquerda da minha porta tem a casa da minha irmã. A minha frente temos a porta da cozinha da casa principal. Ao lado direito desta, tem um portão de ferro com detalhes em sol e pintado em preto. Este, dá acesso ao quintal frontal da propriedade.
Vagarosamente, com a chave a mão, abro a fechadura. Dirijo-me até o extremo frontal direito do piso cimentado que nos serve de quintal. Deito minhas costas nuas sobre a toalha que trouxe comigo...
Contemplo as estrelas... Contemplo a lua...
O frenesi do meu corpo só faz aumentar!... Minha atenção e energias se volt... Pow!!! Mosquitos! Uma nuvem de mosquitos, nuvem, não! Legião! Estou sendo covardemente atacado! Não sou Dom Quixote! Não luto uma batalha inútil e, por isso, abandono o território aos inimigos!
- MEU REINO POR UMA APLICAÇÃO SOCIAL DOS MEUS IMPOSTOS!!! CANALHAS, CANALHAS, CANALHAS!!! CADÊ O FUMACÊ?! - Brado inutilmente!
Os mosquitos riem de mim!
Volto para a cama. Três e quarenta e sete...
Tenho que dormir... Dispo-me. Fecho os olhos...
Vejo uma mulher... Mulher, não! Diva! A mais bela de todas! Beleza esta que despertaria a ira de Afrodite!...
Aproximo-me... Toco-lhe os cabelos... Ela sorri!... Respeitosamente minha boca vai de encontro a sua... De seus lábios sorvo o mais puro dos néctares... O mais forte dos afrodisíacos...
Recuo! Temo maculá-la! Num gesto de virginal pureza ela baixa a face em incandescente rubor!
Meus olhos buscam o seu corpo... Minha audição, a sua voz e o meu olfato os eflúvios que haurem do templo de a sua alma...
Percebo então que estamos em um lindo jardim. Há muitos pássaros, um belo sol, um lindo riacho cristalino e muitas, muitas, muitas flores! Sou invadido por tulipas, begônias, crisântemos, gardênias... Mas, nenhuma é mais bela que a visão de uma Rosa...
Ela me olha. Sorri. Estende os braços. Retiro os véus que a recobrem...
Nos deitamos por sobre as flores...
Ela me sussurra doces promessas aos ouvidos... Nada mais sou capaz de escutar... Nada mais me importa... Imperam os sentidos e a eles me submeto!
E então, todas as forças da natureza se acumulam em meu peito! Como um dique que cede ante a potência das águas, explodo!!!...
... Uma única palavra me escapa pelos lábios... Um nome... Seu nome...
A cruel realidade reassume as rédeas da minha mente. Em plena madrugada, na recôntida solidão do meu quarto, a solidão já não me abate...
Exausto contudo, satisfeito, me entrego aos cuidados de Morpheus!...
Agosto de 1997.
Uau! Bela escrita e belas metaforas.
ResponderExcluirLer -se sem perder o interesse!!!
Adorei!!!
Foi uma experiência poética forjada no desejo e na frustração! Não poderia ficar ruim, né?
ResponderExcluir