sábado, 26 de dezembro de 2015

Pertencimento e Cidadania - ou a arte de se fazer uma sociedade retomar ao rumo da civilidade


Hoje, dia 26 de dezembro de 2015, resolvemos minha esposa, minha irmão e eu irmos às compras de mercado. Sábado entre festas com sol esturricando a pele, o que significa que teríamos um mercado livre! Entramos no carro, fui dirigindo. Já no caminho, um motorista de um carro novo, de valor elevado, abre a janela e deposita no espaço público o lixo que fora produzido pelo seu consumo...

Mais a frente, um homem pobre, sem camisa, com um palito entre os dentes, atravessa fora da faixa e se joga em frente ao meu carro sem se dar ao trabalho de verificar se havia segurança em tal atitude...

Chegamos ao mercado. Estacionamento com muitas vagas livres. Dirigi até às vagas reservadas aos deficientes. Quase todas ocupadas por carros sem a identificação devida pela lei!... Na vaga em que me posicionei haviam dois carrinhos de compras sendo descarregados por duas jovens senhoras para o carro de uma delas que estava numa vaga reservada aos PNEs... Carro sem identificação... Senhoras sem deficiência aparente e duas vagas sendo indevidamente ocupadas... Indiquei com a seta que pretendia usar a vaga ocupada pelos carrinhos de compras e as senhoras despreocupadamente continuaram nos seus afazeres ignorando solenemente a presença de uma máquina de mais de uma tonelada a menos de 40 cm distante delas com o a seta pedindo para acessar a vaga ocupada por dois carrinhos de compras... 

Tarefa de abastecimento terminada, a motorista olha para o caminho que teria que passar com o carro. O meu obstruía levemente a passagem... Descobriu a existência do meu carro... Olhando para ele vê o documento do Detran que me franqueia o acesso àquelas vagas... Olha pra os carrinhos vazios, se desculpa e os retira da frente do meu. Com a minha manobra elas seguem seu caminho...

Durante todo o processo eu só disse que não havia problema logo após um seco me desculpe!

Mesmo não sendo eticamente correto feito por qualquer pessoa, uma pessoa miserável cometendo estes pequenos gestos eu sou capaz de compreender! Uma pessoa miserável tem o mundo por inimigo! Não tem acesso a um mínimo de dignidade! Falta para si comida, emprego, saúde, respeito... Falta pertencimento! Falta ser parte de um grupo para dividir crenças, valores, acessos aos bens culturais e materiais... Esta pessoa ignorar e mais, se rebelar contra a ordem social é compreensível, mas e quem tem acesso aos bens materiais e culturais? Viaja, come bem, bebe bem, estuda, bom emprego, boa casa... Que doença é essa que nos faz a todos ver no mundo um inimigo? A ver o mundo como nosso inimigo?

Perdemos a empatia, o senso de dever, os ideais éticos, a dignidade humana!

Na TV vemos um conclamar contínuo ao ódio! Ódio ao estrangeiro, ao negro, ao homossexual, ao nordestino, ao Homem que pensa diferentemente... Não há mais diálogo! Não há mais pertencimento! E os poucos grupos que percebo uma identidade grupal, esta, é forjada na máxima sociológica de ter por inimigo "o outro"!

Nos preocupamos excessivamente com o acumular de bens. Consumimos e consumimos! Nos preocupamos demais com a estética. Uma estética que serve a Moda. Uma moda que mantem um frenético Mercado que consome irresponsavelmente todos os recursos da Terra! Se na ficção sempre será possível escaparmos de uma hecatombe do nosso planeta, na vida real, só temos esta imensa e, ao mesmo tempo minúscula, nave espacial azul!

Caminhamos para duas possibilidades: ou nos extinguiremos pela força do ódio ou destruiremos esse planeta devastando as águas, o ar, a terra e levaremos toda a vida aqui presente conosco!

Parece que estou exagerando? Espero que sim!

O que sei é que devemos fazer um simples exercício de reflexão todos os dias! Devemos buscar uma mudança nas nossas atitudes que sabemos serem ruins para nós, para "o outro" e para a natureza.

2 comentários:

  1. A leitura do texto me fez lembrar da famosa frase de Gandhi: "seja você a mudança que quer ver no mundo"

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  2. Somos seres que tateiam o mundo estando nos na penumbra da nossa própria Razão e Empatia...

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