quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Como usar a fórmula de Tartaglia - Cardano para encontrarmos raízes de equações de terceiro grau?

Este post vem em complemento do anterior no sentido de termos um exemplo numérico do uso do algoritmos de Tartaglia - Cardano para a extração de raízes de equações de grau 3. Para um melhor entendimento deste post, faz-se necessário ler e estudar o post anterior.

Vamos começar?

Exemplo numérico:

(1)

Como resolver isso?

O primeiro passo é simplificarmos a equação para a forma reduzida exemplificada abaixo:

(2)

Para chegarmos na forma reduzida acima devemos eliminar primeiro o coeficiente a e depois substituímos x por y + 4.

Você se pergunta o por quê de x = y + 4? Para entender isso você deve ver o post anterior!

Eliminamos a dividindo os dois membros da equação por 2. Assim, fica:

(3)

Substituímos x por y + 4, expandimos e simplificamos para a forma de (2),

(4)

Agora temos os nossos p e q  para usarmos na fórmula abaixo:

(5)

Fazemos as substituições de (4) em (5) e resolvemos:



Agora que determinamos y falta voltarmos para x,


Ufa, 6 é raiz da equação (1)! CONFIRAM!!!

Para as duas outras raízes devemos pegar a equação (3) e dividir por (x - 6). A divisão é exata e dará como quociente uma equação do segundo grau de onde será possível extraí-las por Bàskara.

Abaixo o gráfico da função definida por (1) com destaque para as três raízes, o máximo e o mínimo relativos.



Um abraço!

Tartaglia-Cardano e as resoluções de equações de terceiro grau

Aproveito a deixa de estar de cama e retomo ao blog. Um tema me chamou a atenção e venho aqui compartilhar com vocês: o algoritmo de Tartaglia - Cardano para a resolução de raízes de equações de terceiro grau!


Andei estudando os números complexos e, ao reler sobre as origens históricas de tais números, redescobri que o motivador de seu desenvolvimento se deu pela resolução das raízes das equações de terceiro grau. Temos um algoritmo histórico desenvolvido pelos matemáticos Tartaglia e Cardano no século XVI que não nos é prático usar hoje já que o algoritmo é muito extenso e demanda muitas etapas de resolução. Hoje, temos calculadoras científicas e programas gratuitos para o computador que facilmente resolvem este tipo de problema.
Só que há um interesse histórico e pedagógico em estudar tal algoritmo. Por exemplo, ao se trabalhar o conteúdo de números complexos, podemos usar o algoritmo de Tartaglia - Cardano como um motivador histórico para justificar e enriquecer uma aula do corpo dos números complexos ou para mostrar a beleza elegante da Fórmula de Bàskara.

Buscando pela internet uma demonstração passo a passo do desenvolvimento do algoritmo, percebi que ou encontramos resoluções incompletas ou resoluções confusas. Resolvi então abrir as contas de forma que possibilite a um estudante acompanhar o raciocínio e entender a construção.

Vamos ao trabalho?

                              DEDUZINDO A FÓRMULA

Uma equação do terceiro grau é todo polinômio que pode ser escrito da seguinte forma e igualado a zero:




PASSO 1 - Dividimos os dois membros da equação por A.

(1)

Substituímos A/A = 1,B/A = a ,C/A = b e D/A = c, já que são números e estamos só os representando de forma que sejam melhor manipulados. Assim,

(2)

Observemos que as raízes em (1) e (2) são idênticas por se tratar da mesma equação.

PASSO 2 - Eliminamos o termo de grau 2. Para isso, fazemos uma substituição da variável X por Y - k, onde k é um número real que precisamos determinar o seu valor de forma que realizemos a eliminação. Substituímos e expandimos a equação.




Reorganizando em termos semelhantes fica,




Determinado o valor de k, reintroduzimos este valor numérico na equação acima que fica da seguinte forma após simplificarmos,



Para manipularmos a equação de forma mais fácil, renomeamos as contantes.

(3)

Aqui era onde queríamos chegar!

Só que ainda não é possível determinar as raízes da equação. Devemos para isso continuar fazendo manipulações algébricas até termos uma identidade que remeta a um algoritmo manipulável.

PASSO 3 - SUBSTITUÍMOS Y POR DOIS VETORES u E v


Fazemos Y = u + v. Para quê? Queremos pegar a fórmula da equação cúbica reduzida (3) e compararmos termo a termo com a última linha de (4),




(4)
Assim, 



Das relações acima, concluímos que



Fazendo a organização e a limpeza visual,



Aqui foi a grande sacada! Ao transformarmos Y numa soma de u e v, descobrimos uma relação de soma e produto entre u ao cubo e v ao cubo. Assim, podemos determinar uma das 3 raízes de Y e, consequentemente de X, usando um algoritmo que determine os valores de u e de v. Y = u + v e ao determinarmos u e v determinamos a raiz de X refazendo o processo inverso onde X = Y - B/3A. Confuso? Reveja todos os passos. No passo 1, impomos que X = Y - k. Depois descobrimos que k = -a/3 (a = B/A). Impomos agora que Y = u + v. Ao determinarmos u e v, teremos uma raiz para a equação cúbica!

                                             COMO DETERMINAR u E v ?

Soma e produto de dois números é determinável por Bàskara!

PASSO 4 - Usando Bàskara para determinar u e v.

Uma das propriedades da equação do segundo grau é a que o coeficiente de X que é elevado a primeira potência é o simétrico da soma das raízes e a constante é o produto delas. Visualizando:



Assim, podemos substituir S e P por,



Os valores numéricos de p e q estão em (3). Finalmente, por Bàskara:


Isto implica que,


Aqui chegamos! Ufa! Com esta fórmula podemos determinar uma das três raízes de uma equação do terceiro grau.

Pergunta que não quer calar! COMO USAMOS ESSA FÓRMULA NUM EXEMPLO NUMÉRICO?!

Resposta no próximo post!

Um abraço!